Hereditariedade e Meio

 

    Quase todos os psicólogos concordam que a hereditariedade e o meio são importantes na determinação do nível de inteligência de cada indivíduo. As discordâncias surgem quanto ao peso relativo de cada um dos factores. No entanto, actualmente os psicólogos tendem a interessar-se mais pelo modo como os dois factores interagem do que pela questão de qual é mais importante. Mais importante do que a competição entre o inato e o adquirido é a sua interacção.

    Quando se coloca o problema do peso relativo da influência do património genético e do meio na determinação da inteligência, a questão traduz-se nos seguintes termos: herdamos essencialmente dos nossos progenitores o nosso nível de intelectualidade ou é este fundamentalmente determinado pelos factores ambientais e educativos?

    Os estudos com gémeos monozigóticos revelam que gémeos idênticos criados juntos apresentam nível intelectualmente superior ao de gémeos separados à nascença (ou pouco depois) e educados em meios distintos.

    Assim, o mesmo tipo de estudos que evidenciam o papel relevante da hereditariedade também mostram a importante influência do meio.

    Impõem-se actualmente a convicção de que a hereditariedade estabelece certos limites intelectuais ao determinar o potencial genético, mas que dentro desses limites não há fronteiras fixas, sendo o meio o responsável pela sua ultrapassagem ou não.

    O grau de estimulação fornecido pelo meio em interacção com o potencial genético influencia, tanto quanto podemos saber, a capacidade a que, de modo pouco, definido chamamos inteligência. Esta desenvolve-se, ou seja, não é rigidamente fixada pela hereditariedade.

    O exemplo seguinte, embora limitado à noção de QI – conceito que cobre somente aspectos da inteligência -, tornará compreensível o que acabamos de dizer:

“Imaginemos que três crianças começam a vida com diferentes heranças genéticas (genótipos) no que respeita à inteligência: uma reduzida, a segunda mediana e a outra elevada. Os diferentes níveis de competência intelectual que realmente actualizarão (fenótipos), enquanto medidos por testes de QI, dependerão do modo com é estimulado o desenvolvimento intelectual de cada criança, das experiências vividas desde o momento da concepção, das condições criadas pela família, pela escola e pela comunidade. Assim sendo, em ambiente rico em estímulos culturais e intelectuais, a criança com menores dotes genéticos pode atingir m QI na realidade igual (ou mesmo um pouco superior) ao da criança cuja herança genética é mediana, mas que se desenvolve num meio cultural e economicamente pobre, abaixo da média. Contudo não podemos esperar que o Q.I dessa criança geneticamente desfavorecida seja igual ao da criança geneticamente muito favorecida ou dotada porque isso está para além do nível máximo de funcionamento intelectual que lhe é possível. A hereditariedade estabelece limites ao modo como utilizamos os instrumentos culturais que o meio coloca ao nosso dispor.”

    Algumas características hereditárias e o meio ambiente trabalham juntos para determinar a personalidade, ou seja há uma equilíbrio entre os factores ambientais e os factores adquiridos hereditariamente (já assim o dizia Piaget). Isto não quer dizer que uma criança tenha que ficar para sempre atrelada à sua formação genética, dado que um gene apenas fornece a probabilidade de um traço de caracter, não é uma garantia. Então, diz-se que a natureza afecta a criação e a criação afecta a natureza.