Inteligência não chega para ser aluno brilhante

07-06-2010 23:39

 

Inteligência não chega para ser aluno brilhante

Sucesso académico exige a conjugação de vários factores: inteligência inata e estimulada, personalidade curiosa, motivação intrínseca para aprender e estabilidade emocional.

Para se ter boas notas, o que é mais importante: inteligência, motivação, estabilidade emocional, apoio familiar ou muito estudo? Quais os ingredientes da inteligência? Serão os alunos brilhantes os mais inteligentes?

"A inteligência corresponde a uma grande capacidade de aprendizagem mas nem sempre conduz a percursos escolares de sucesso", afirma Nélson Lima, neuropsicólogo e director do Instituto da Inteligência.

O que significa que a inteligência, por si só, não é garante de nada. Não é uma condição estável ao longo da vida e, não obstante ter uma base genética, a inteligência exige estimulação e trabalho para se desenvolver plenamente. O sucesso escolar, tal como o êxito na vida, "é fruto de uma constelação de factores", sublinha aquele especialista, acrescentando que a inteligência é apenas um dos ingredientes.

Se é verdade que há genes que intervêm nos processos cognitivos e favorecem a inteligência - é o que acontece com os sobredotados -, há também tipos de personalidade que beneficiam a aprendizagem. Crianças curiosas, proactivas em relação ao conhecimento e auto-orientadas para o saber e para a consecução de objectivos são geralmente boas alunas.

Ou seja, embora todos nasçam com mais de cem mil milhões de neurónios, a forma como estes se organizam e estabelecerem relações (arquitectura neuronal) é única. Por essa razão, o nosso cérebro não é um produto acabado, mas uma construção continuamente em transformação (plasticidade cerebral).

Algumas matérias, como a Matemática, auxiliam o desenvolvimento de um tipo de raciocínio estruturante da inteligência e do processo de aprendizagem, defende Nuno Crato, professor do Instituto Superior de Economia.

Embora não haja estudos portugueses, os resultados de investigações realizadas noutros países demonstram que "há uma correlação estatisticamente significativa entre bons resultados a Matemática e sucesso a outras disciplinas", sublinha o também presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática.

O Português é outra disciplina de capital importância porque, tal como a Matemática, é uma forma de linguagem e que exige clareza de pensamento, interpretação e expressão. "Existe também uma associação entre excelentes desempenhos a estas duas disciplinas. A investigação mais recente aponta, aliás, no sentido de haver uma correlação forte entre os vários tipos de inteligência", sublinha Nuno Crato, que valoriza, ainda, a importância de as famílias e as escolas promoverem o gosto pelo conhecimento e pela excelência.

"Há crianças com uma motivação intrínseca, que não precisam de estímulos externos, porque já têm uma predisposição natural, genética, para procurarem o conhecimento, o que explica que surjam alunos brilhantes em meios pouco propícios", de acordo com Nelson Lima.

A sede de aprender e a auto-motivação são características comuns à Ana Catarina Gomes, Pedro Sousa Vieira, Marta Nunes Vicente e Tiago Jordão Grilo - quatro alunos de excelência que o JN entrevistou. Todos estudam pelo prazer do conhecimento e, como consequência, alcançam resultados notáveis (ver páginas seguintes).

É frequente invocarem-se factores como um ambiente sócio-familiar desestruturado ou carências emocionais para explicar as dificuldades dos alunos que não atingem os objectivos de um sistema de ensino massificado. Contudo, os factores que condicionam a aprendizagem são também os que concorrem para a excelência académica.

O bem-estar consigo próprio, a auto-estima positiva e o sentimento de tranquilidade e felicidade, assim como pertencer a famílias estáveis e que valorizam o conhecimento, são outros factores favorecem carreiras escolares de sucesso, segundo Nelson Lima.